terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

UM ROMANCE PARA MASTIGAR


Escrita portentosa do Nobel J. M. Coetzes. Escrita funda. Organizada. Aparentemente do lado racional do olhar sobre o mundo. Mais virada às racionalidades que às emoções.

Elizabeth Costello é uma escritora australiana que percorre o mundo a fazer palestras. Nos primeiros 7 capítulos assistimos às suas palestras, às suas ideias por vezes contraditórias sobre o bem e o mal, os direitos dos animais, o holocausto, etc.

A princípio o livro parece ser apenas uma exposição brilhante de ideias. Mas, a figura da escritora vai crescendo quase sem o leitor se dar conta disso e explode numa forma muito particular de associar o racional e o emocional, para terminar de forma absolutamente inesperada ou pelo menos surpreendente com a espessura que só um grande escritor é capaz de conferir à sua escrita.
Neste romance construído cuidadosamente e cheio de pequenas e grandes surpresas, Coetzee obriga-nos a pensar, a argumentar, a usar o contraditório, a emocionarmo-nos com o brilhante exercício de uma racionalidade levada quase até ao extremo.

Diria que “Elizabeth Costello” é um romance para mastigar, para ler devagar, parar a meio, voltar atrás. Para reler. Não serve para distrair. Não é um entretenimento. É literatura. Grande. Daquela que nos faz pensar e repensar no tempo que nos é dado viver através do uso notável da arte das palavras e da reflexão sobre o uso dessa arte.

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