sábado, 11 de outubro de 2008

VENENOS DE DEUS REMÉDIOS DO DIABO


“VENENOS DE DEUS, REMÉDIOS DO DIABO”


Um livro que nos enche a alma como quase toda a prosa e poesia do Mia. As personagens são muito bem desenhadas, cheias de contradições, de humanidade, de sonhos naufragados e memórias dolorosas.

Bartolomeu Sozinho que está a morrer e quer deixar de sonhar. A esposa Mundinha que vai chorar para o rio porque não se deve chorar em casa. O português doutor Sidonho à procura do amor. Suacelência, o Administrador balofo e cheio de si próprio, político igual aos políticos do mundo inteiro.

Tudo servido por uma invenção verbal notável e que é a marca do Mia que, por vezes parece quase exagera nos aforismos africanizantes. Mas isso faz parte do seu processo de escrita, da sua pontuação, e, embora esteja no limite, não chega para ensombrar o correr rápido, seguro e encantador da narrativa.

Nesse decorrer da história vamos acompanhando o jogo de aproximação/rejeição entre um português e o mundo moçambicano e constatação no final de não ter penetrado aquela realidade profunda para além de uma falsa superfície.

A história também nos fala da forma como a memória colonial perdura e de como, por exemplo, uma bandeira da Companhia Colonial de Navegação se torna na Bandeira do Sporting.

Aliás, toda a história é um carrossel de mentiras e aparências, sombras e sonhos que se enredam num caleidoscópio que se torna vertiginoso no final, revelando realidade sob realidade até que o leitor não saiba bem qual é a verdadeira verdade da história que leu.

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