quinta-feira, 2 de outubro de 2008


As Edições Nelson de Matos já nos tinham oferecido um inédito de José Cardoso Pires: Lavagante. Presenteia-nos agora com “Histórias de Amor”, o segundo livro de Cardoso Pires publicado em 1952. Este livro foi rapidamente censurado, proibido, e retirado do mercado. É assim como se de um original se tratasse. Uma primeira palavra de apreço para a cuidada edição. Encontramos a capa original, as passagens censuradas sublinhadas a cinzento, a carta de Cardoso Pires ao Director dos Serviços de Censura, após a retirada do mercado, e algumas críticas da época, entre as quais a de Mário Dionísio.

Quanto aos contos aqui incluídos, é indispensável salientar o quase contínuo ambiente de beleza que neles se desenvolvem. Nota-se no entanto, a influência de escritores americanos como Erskine Caldwell ou Ernest Hemingway. O exemplo mais flagrante é o conto “Pequenos Vampiros” em que apesar da acção se situar em Chelas temos a sensação de estar a lidar com gangsters americanos e com uma atmosfera americana. Para além de quatro contos, encontramos uma novela que é uma verdadeira pérola: “Dom Quixote, as velhas viúvas e a rapariga dos fósforos”. Aqui encontramos ambientes e realidades bem Portuguesas num desenvolvimento narrativo belíssimo. As velhas viúvas com salários de miséria, os quartos esconsos onde as vidas se escoam, uma rapariga que hesita entre o pudor e uma forma singela de prostituição e um narrador que se vai desapaixonando. Todas as incidências da novela, desde a chegada de uma ambulância e o alvoroço e que causa aos vizinhos e os ditos destes, os homens que de carro procuram raparigas, o velório de viúvas, têm um ambiente profundamente português. O livro vale, e muito, por esta belíssima novela.

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