Truman Capote é um autor indelevelmente ligado a uma só obra, “A sangue frio”, narrativa não ficcional em torno do selvático homicídio de uma família de uma família no Kansas rural. Com esta obra, Truman Capote converteu-se em estrela americana tendo na altura apoarecido em tudo o que era “talk shows”. Começou também a cair nas boas graças da “high society” boémia. Anuncia a publicação de um novo romance, “Súplicas atendidas” que nunca viria a completar (está publicado em Português o que resultou desse esforço sempre adiado). Este romance examinaria impiedosamente a vida dos amricanos ricos. Os seus amigos ricos vão abandonando-o e Truman Capote entra num túnel de drogas e álcool. Poderíamos pensar que a isto se resume a carreira do autor. Mas temos tido ao longo dos anos a edição em português de textos que revelam outras facetas deste autor, como por exemplo “A harpa de ervas”. Não me recordo precisamente se é neste livro que escreve uma crónica deliciosa sobre a sua experiência de acompanhar uma companhia de dança americana à Rússia. E agora chegam-nos os “Contos completos” pela Sextante Editora”, e vemos todo o grande escritor de textos curtos que foi Truman Capote. Apesar de longo, este é daqueles livros que nos deixa com uma sensação de pena no final de que não hajam mais contos. Este li vro revela-nos também a versatilidade de temas abordados. Há dois contos, por exemplo, autobiográficos, relativos à sua infância. A mãe casou com um homem bastante mais velho e ao fim de um ano separam-se. Truman Capote é entregue a parentes que vivem numa quinta do Alabama. A sua infância está marcada pela amizade funda com uma senhora idosa de alama de criança que sempre o acompanha nas suas brincadeiras. Num outro conto, é relatada uma viagem da criança Truman Capote até New Orleans para ver o pai. Várias coisas o apavoravam: a ideia de deixar a sua amiga, o ter de viajar sozinho e, sobretudo, reencontrar-se com um homem praticamente desconhecido. Mas a promessa completamente irrealista da sua amiga de que iria ver neve em New Orleans convence-o, embora com tristeza, a partir. Para aquilatarmos da versatilidade do autor, atentemos por exemplo no conto “A lenda de Preacher”, onde um velho negro perdeu há um ano a sua mulher. Este personagem folheia atentamente a bíblia embora não saiba ler e está profundamente influenciado pelos sermões do pastor local. Todos os dias, Preacher faz um percurso até um rio para ver se acontece algum milagre. Um dia avista dois indívídos (caçadores). Preacher corre para a sua pobre casa e tenta arranjá-la o melhor possível. Entretanto os caçadores vão atrás dele com a intenção de lhe pedir de beber. Quando eles chegam a sua casa, Preacher pensa que um dos caçadores é Jesus Cristo e, o outro, um santo. Este desencontro é delicioso.
Se tivéssemos que dar estrelas como os críticos de cinema (desde “a evitar” até 5 estrelas) eu diria: “a não perder”
Se tivéssemos que dar estrelas como os críticos de cinema (desde “a evitar” até 5 estrelas) eu diria: “a não perder”
1 comentário:
PV; Truman Capote ... bem, ... dá uma vista de olhos no filme (vale a pena ... e, a meu ver, merece o Oscar do protagonista ...) poderá trazer uma luz mais abrangente a um autor que não o é ... ocorre-me à medida que ouço (invariávelmente ...) Tom Waits, que cada vez mais me 'afunda' e arrepia, em "Time" do >Beautiful Maladies< ou "Jesus Gonna be here" que carrega a (crua)realidade à tona da nossa suave existência - do grotesco/burlesco ao 'negro' ... - ficamos com a carga existêncial que queremos carregar ... e, permite-me a divagação do pensamento e a subjectividade da opinião, (e que me perdoem todos os prosaicos autores e demais ...) continuo a considerar o (talvez modesto) Nick Cave com a sua unica contribuição literária, à data: "E o Burro Viu o Anjo ...", como, pelo menos, Muito Bom - explorando tabus, negros, podres mal-cheirosos - repugnantes, em suma - de forma tão crua que agarra ......
bem, foi uma divagação 'da alma', sobre algo que me é querido ...
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