quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ERA NO TEMPO DO REI




Uma graça. Muito divertido. Um entretenimento de muita qualidade. Na linha de um outro romance muito divertido, “Memórias de um sargento de milícias” de Manuel António de Almeida, do início do séc. XIX, a quem toma a figura do Sargento Leonardo para lhe contar a infância no Rio de Janeiro da Corte de D. João VI quando se torna companheiro de tropelias do Infante D. Pedro.

Romance pícaro, ligeiro mas bem trabalhado, quer na linguagem quer no retrato do mundo popular e marginal do Rio, quer no da Corte e se debatem as contradições entre D. João VI e a Rainha Carlota Joaquina.

É curiosa a visão que o autor dá de D. João VI, homem bondoso, mas homem de Estado com visão sobre o que vai pelo xadrez das relações internacionais da época, tão diferente daquele imagem bacoca, imbecilizada do monarca que tanto tempo predominou num certo imaginário popular.

Carlota Joaquina é uma desavergonhada, ambiciosa, capaz de meter toda a gente na cama e de conspirar com todos contra o marido (de que dá retrato de louco) no fito de vir a ser Regente de Espanha e Portugal.

D. Pedro é o valente herói brasileiro, brigão, atrevido e namoradeiro. Mas é mais do que isso. É o retrato de um príncipe carregado de nobreza e verticalidade, qualidades que nos fazem cada mais falta. A todos nós.

D. Miguel é um menino da mamã, um rapzito moralmente mal aviado, intelectualmente menor, sem a chispa nem a dignidade do irmão (meio-irmão sendo verdade que o seu pai seria o jardineiro do Ramalhão em Sintra). E parece que o retrato rima bem com ó papel que veio a desempenhar na nossa História.

O Rio de então anuncia o de hoje. Miséria e riqueza excessiva. Ouro e fome. Malandros, ladrões, piratas, no meio de uma natureza fabulosa. E envolvendo a cidade periodicamente essa respiração incrível que se chama Carnaval.

Foi o meu último romance do ano que assim acabou bem.

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