terça-feira, 21 de abril de 2009
FILIPA LEAL
Tento estar atento a tudo o que se publica em poesia. E tenho para mim que a poesia dos jovens poetas portugueses publicada nos últimos 10/15 anos é muito frágil. Tem uma tremenda falta de urgência e de ruptura, por um lado, e, por outro, uma óbvia incapacidade de inserção na fortíssima tradição lírica portuguesa.
Na babugem das novidades, os opinantes de serviço constroem, de quando em vez, alguns ídolos de ocasião. Pés de barro. E muitos destes incensados jovens depressa desaparecem.
Em poesia tal como em pintura, é preciso acompanhar a caminhada do artista para perceber se um poema, um livro, um quadro, são passos seguros de uma maratona ou apenas breves relâmpagos que atravessam o espaço para logo se apagarem.
Há tempo que venho a seguir bastante interessado a poesia da Filipa Leal. Três livros até agora. Parece-me uma voz segura. Limpa. E própria. Capaz mostrar as raízes de que parte sem deixar de construir a sua própria forma de cantar.
Falo de cantar de propósito. Porque poesia é canto. Música da língua. Por vezes clara como água a correr. Outras vezes secreta e misteriosa. Mas música. E muita da jovem poesia portuguesa dos últimos anos é afónica. E pior, ainda, roda á volta de uma dimensão prosaica e muito pobre.
Conheci recentemente a Filipa Leal no lançamento deste seu último livro que nos traz um belo poema repartido numa série de pequenas paragens. É o seu texto mais antigo. Um texto para ler em voz alta. Parafraseando Fernando Pessoa, a princípio, este texto estranha-se e depois entranha-se. É um texto profundamente feminino, delicado e envolvente que nos leva em círculos lentos num voo solene e branco sobre a condição de ser mulher.
Filipa Leal é uma pessoa-poeta que voa e acredito que voará longe. E não vale a pena falar muito mais e fazer altas teorias acerca da sua poesia. A arte que precisa de muitas explicações é pasto bom para o negócio. E eu cá hei-de viver a gostar ou não gostar mas sempre intensamente. E hei-de morrer "sem jeito para o negócio", como dizia o Cesariny sobre o Mário Sá-Carneiro.
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