quinta-feira, 30 de abril de 2009

Manuel António Pina


Que maravilha a entrevista que deu à Publica de domingo passado. Entre as coisas que disse sublinhei algumas que me pareceram importantes. Apenas me delicio com estas palavras, são saborosas, pouco tenho que acrescentar ou a comentar, pois elas dizem tudo, pelo menos para mim.
"A palavra criar, pelo menos em termos fonéticos, tem muito que ver com a criança..." 
"As minhas amigas psicanalistas dizem que se eu não escrevesse poesia era um grande cliente delas." 
"Não gosto de psicanalistas. Desconfio. São polícias das almas. Não gosto nada que espreitem cá para dentro." 
"A poesia é uma busca da identidade, ou seja, de coincidência. Na busca dessa coincidência, é natural que cada um de nós construa uma narrativa, construa um passado." 
Quando era mais novo "imaginava este mundo como sendo a barriga, o interior de um ser a quem chamamos Deus. (...) na minha barriga viviam muitos pequenos seres que me designavam a mim, não sabendo quem eu era, por Deus." "De vez em quando, dava um soco na barriga, - ai, provoquei um terramoto nos universos inferiores todos. - imaginava os seres dentro da minha barriga atirados ao chão, a pedir piedade, piedade."
"Vou contar-lhe um segredo (...): Eu escrevia com uma régua, à mão. Se eram coisas que podiam ser vistas por outra pessoa, escrevia com régua, e com hipocrisia. Ainda hoje faço as dedicatórias dos livros assim: uso o bilhete de identidade [a fazer de régua] para ficar mais certinho, para não me mostrar em cuecas, para não mostrar a minha intimidade, a irregularidade."
"Eu não sou muito hipócrita, sou o suficiente para conseguir viver em sociedade."

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