sábado, 4 de setembro de 2010

SOMERESET MAUGHAM NO FIO DA NAVALHA - UM APELO




Toda a literatura vive no fio da navalha, a navalha do tempo. Lugar comum esta minha consideração, que se me impõe agora que estou a ler uma versão completa dos contos e novelas de Somerset Maugham, publicada em França, pela Omnibus. S. Maugham foi um ícone da literatura europeia durante algumas décadas do século XX. Não só pelas suas novelas como, principalmente, pelos seus romances. “Servidão Humana” e “ O Fio da Navalha” (Livros do Brasil), talvez os mais conhecidos em Portugal, exerceram uma forte influência entre os nossos escritores, nomeadamente em Joaquim Paços d’Arcos. Livros esses que eu e os da minha geração transformaram em objecto de culto, não só pela mestria da escrita mas também pelo mundo novo de valores, ideias e sentimentos que nos trouxeram.
Ora, a leitura da obra editada pela Omnibus fez-me reflectir sobre o que há de diferente neste autor da primeira metade do século passado. O estilo? Sim. O poder narrático? Evidentemente. O sentido de humor? Sem dúvida. O mistério e a aventura que se escondem nas descrições? É bem possível. E, por que não, um toque de snobismo britânico que atravessa personagens e as situações por elas vividas? Para não falar do exotismo dos ambientes em que a acção mergulha.
Obra do passado? Obviamente. Mas obra de todos os tempos , como bem compreendeu a editora francesa que se aventurou a publicar em papel bíblia uma obra de 1429 páginas.
E um apelo: para quando a edição portuguesa? Se não for viável a tradução integral das novelas, que se editem as mais longas, pois S. Maugham é fundamentalmente um romancista que precisa de espaço para a descrição de situações, ambientes, sentimentos. Por isso, talvez fosse de traduzir a novela de Mr. Ashendem, um conjunto de peripécias de um escritor inglês transformado em agente secreto durante a guerra de 14-18. O pitoresco das situações, o imprevisto da acção caracterizam com propriedade e humor os métodosde actuação dos serviços de espionagem inglesa. Aqui fica, portanto, o apelo.

1 comentário:

deep disse...

Um dos "meus" livros, sem dúvida, desde os 18/ 19 anos. De tanto ter sido emprestado e lido está num estado deplorável. Larry foi, talvez pelo facto de o ter lido naquela idade, uma das personagens que mais me apaixonou.
Não li "Servidão Humana", mas, em contrapartida, li "A Lua e Cinco Tostões" (Pequenos Prazeres da Asa) que, se não leu, aconselho vivamente e "Paixão em Florença" (uma escrita menos madura). Em Somerset Maugham, além do estilo e da trama das suas obras, gosto sobretudo daquele narrador presente que nos vai contanto histórias curiosas enquanto tomamos um café numa qualquer aprazível esplanada.

Bom fim-de-semana e boas leituras. :)