O Escritor que viu Deus
De Dino Buzzati, o autor de “O Deserto dos Tártaros”, foi publicada mais uma colectânea de contos, “A Derrocada da Baliverna” (Cavalo de Ferro). Esta, como as anteriores, é constituída por um conjunto notável de histórias, algumas a situarem-se no que de melhor tem sido produzido na literatura europeia contemporânea. Entres elas, “O cão que viu Deus”. Parábola que coloca, de modo magistral, a problemática da consciência face ao pecado e ao sentimento de culpa decorrente do não cumprimento da lei moral.
Mas… se prevaricarmos, quem o poderá saber? Deus? Mas se Deus está tão distante dos homens, tão oculto... Cumprirmos os seus mandamentos não será expormo-nos ao ridículo dos nossos concidadãos, tão absorvidos pelas realidades do seu dia-a-dia?
Mas Deus não se servirá de outras formas para nos vigiar? Porque não o olhar de um cão, um cão que foi do eremita que viveu e morreu na montanha, a quem Deus teria aparecido? E se apareceu ao eremita não teria também aparecido ao seu cão? O seu olhar atento e bondoso não seria a forma de que Deus se serviu para vigiar aquela comunidade e, assim, acordar a sua consciência adormecida?
Se admitirmos que alguém viu Deus e dele tenha recebido uma missão, esse alguém foi, sem dúvida, Buzzati, a quem Deus teria confiado o poder de nos fazer amar a literatura e, através dela, o bem e o mal que vive no coração do homem.
De Dino Buzzati, o autor de “O Deserto dos Tártaros”, foi publicada mais uma colectânea de contos, “A Derrocada da Baliverna” (Cavalo de Ferro). Esta, como as anteriores, é constituída por um conjunto notável de histórias, algumas a situarem-se no que de melhor tem sido produzido na literatura europeia contemporânea. Entres elas, “O cão que viu Deus”. Parábola que coloca, de modo magistral, a problemática da consciência face ao pecado e ao sentimento de culpa decorrente do não cumprimento da lei moral.
Mas… se prevaricarmos, quem o poderá saber? Deus? Mas se Deus está tão distante dos homens, tão oculto... Cumprirmos os seus mandamentos não será expormo-nos ao ridículo dos nossos concidadãos, tão absorvidos pelas realidades do seu dia-a-dia?
Mas Deus não se servirá de outras formas para nos vigiar? Porque não o olhar de um cão, um cão que foi do eremita que viveu e morreu na montanha, a quem Deus teria aparecido? E se apareceu ao eremita não teria também aparecido ao seu cão? O seu olhar atento e bondoso não seria a forma de que Deus se serviu para vigiar aquela comunidade e, assim, acordar a sua consciência adormecida?
Se admitirmos que alguém viu Deus e dele tenha recebido uma missão, esse alguém foi, sem dúvida, Buzzati, a quem Deus teria confiado o poder de nos fazer amar a literatura e, através dela, o bem e o mal que vive no coração do homem.
2 comentários:
O Albano inciou-me em várias leituras e insistiu muito na arte dos grandes contistas de que ele próprio é um magnífico cultor.
Papini, Machen, Buzzati.
Encontrámo-nos um dia numa casa de chá, dessas calmas e confortávis que ele gosta de descobrir por aqui e por ali, quando lhe vi na mão o primeiro livro de Buzzati traduzido em português (bendita Cavalo de Ferro com o seu excepcional catálogo manchado apenas por algumas traduções pelo menos apressadas para não ser excessivamente crítico)
O livro era "Os sete mensageiros". Tinha uma capa muito bonita.
Quando saí da casa de chá, quer fosse pela capa, quer pelo entusiasmo do Albano, fui a correr comprá-lo e li-o de um sorvo.
Era isso que eu gostava que fôssemos com este blog. Gente que passa vícios e mostra capas.
Gente doida por ler e por trazer todos os outros à mesa saborosa desta paixão vagabunda.
Abraços e beijos,
José Fanha
Volto ao Buzzati.
Fiquei maravilhado com "O cão de Deus", um conto perfeito.
A lê-lo fui pensando que talvez haja uma espécie de continuidade entre Buzzati, Papini e Calvino.
Não é só por serem italianos.
Em todos se conjuga fantástico, absurdo e irónico. Mas mais. Em todos há como que uma descolagem dos cenários, das paisagens, das cidades, para um espaço de estranheza, às vezes não nomeado ou não localizado.
Esse é muitas vezes o começo da inserção do leitor na estranheza, numa espécie de desconforto, terra de ninguém onde as regras da física ou da narração ou da lógica podem ser subvertidas a qualquer momento e lançar-nos em perigos terríveis e indefinidos.
Será assim? Estão de acordo comigo?
Abraços e beijos,
José Fanha
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