Através de um monólogo, Albert Camus conta-nos a história de um advogado de sucesso que inicia uma viagem aos meandros da sua consciência. A sua confissão a um outro homem é iniciado num bar num bairro de marinheiros e percorre em 4 ou 5 dias as ruas dessa cidade. Esta é um julgamento de todos, porque sentimos perfeitamente essa queda do confessor. O autor empurra-nos para um lugar pouco agradável, onde nós, juízes e inocentes, somos também culpados dessa acusação que fazemos aos outros. É portanto um livro pequeno mas muito pesado e que só devemos ler se estivermos num andar de baixo, acusados do pior. Se for o caso, então este livro é um tónico regenerador que não nos deixa indiferentes quando subirmos as escadas, porque ao subir, mesmo poucos degraus, podemos sempre cair, principalmente se subirmos com muita confiança, sem olharmos para os nossos próprios pés. Além de tudo, esta história fala-nos sobre a arte: "Sei o que está a pensar: é muito difícil destrinçar o verdadeiro do falso naquilo que conto. Confesso que tem razão. Eu próprio... Olhe uma pessoa das minhas relações dividia os seres em três categorias: os que preferem não ter nada a escondera serem obrigados a mentir, os que preferem mentir a não ter nada que esconder, e, finalmente, os que amam ao mesmo tempo a mentira e o segredo. Deixo à sua escolha o compartimento que mais me convém. Que importa, no fim de contas? As mentiras não conduzem finalmente à via da verdade? E as minhas histórias, verdadeiras ou falsas, não tenderão todas para o mesmo fim, não terão o mesmo sentido? Que importa, então, que sejam verdadeiras ou falsas, se, nos dois casos, são significativas do que fui e do que sou? Vê-se mais claro, por vezes, naquele que mente que no que fala verdade. A verdade cega, como a luz. A mentira, pelo o contrário, é um belo crepúsculo que põe cada objecto em realce." Ao ler lembra-me um pouco aquele poema de Fernando Pessoa "O poeta é um fingidor".
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