domingo, 31 de janeiro de 2010

EU JÁ ESTIVE EM BUENOS AIRES



Ao fechar este livro de Tomás Eloy Martinez posso dizer que já estive em Buenos Aires. Acabo de chegar de lá. Passeei pelas suas ruas e mitos. Senti o tempo, o calor, o frio, a humidade, a pobreza, o cheiro das casas, a respiração dos cafés, das livrarias e milongas.

A literatura tem coisas destas. Leva-nos aonde nunca fomos. E, se calhar, aonde nunca poderemos ir de outra maneira.

Já conheço Buenos Aires, a cidade que espero um dia tocar com a mão, varrer com os olhos, entregar-me às livrarias que estão abertas 24 horas por dia, caso único no mundo julgo eu.

A história é simples aparentemente. Um cantor de tangos ccm uma voz única, muito melhor que Gardel, um homem deficiente que vai tendo cada vez mais dificuldade em ter-se de pé ou respirar, canta sem aviso e muitas vezes sem público em pontos especiais da cidade, fazendo com essa sua peregrinação um mapa dos crimes por vezes apagados da memória colectiva. São os crimes dos generais, dos ditadores e das polícias que se sucederam ao longo da história acidentada da mágica cidade.

Um estudante americano procura este cantor e segue os seus passos atravessando a cidade em todas as direcções num tempo recente em que a miséria sai para a rua, a fome cresce e os governos sucedem-se.

E este estudante procura também conhecer e interpretar a cidade mitificada por Jorge Luís Borges e julga ter descoberto o famoso Aleph que surge num dos primeiros ou mesmo no primeiro conto de Borges, um ponto lminoso que permite ver o passado e o futuro.

"Ali a realidade não sabia o que fazer e andava à solta, à caça de autores que se atrevessem a contá-la."

Nesta vagabundagem o jovem Bruno reconhece na cidade um labirinto físico, temporal, cultural, em que os habitantes se movimentam de uma forma misteriosa e os estrangeiros se perdem nas voltas do espaço, do tempo e do tango.

Pronto. Como vêem já estive em Buenos Aires. Vivi uma semana e meia nas suas ruas. E, no entanto, nunca lá estive. Mas mais dias menos dia... Não falho.

2 comentários:

deep disse...

Até eu, com as suas palavras, fiquei com vontade de ler o livro e de ir a Buenos Aires. Obrigada pela partilha. :)

Teresa disse...

Incrível como os livros nos levam a lugares fascinantes sem abandonarmos o nosso chão.
Desta viagem, gosto particularmente das livrarias abertas 24 horas,do género loja de conveniência para satisfazer as urgências da alma.

Beijinhos