Li já há algum tempo um livro publicado na leva de edições de final de ano: "A fome" do norueguês Knut Hamsun, prémio nobel da literatura em 1920. A edição da Cavalo de Ferro inclui um bom prefácio do Paul Auster. Este é de facto um livro extraordinário!!! É um livro sobre quase nada, mas que sabe a muito. O protagonista é um jovem que decidiu viver de uma forma ascética, tentando escrever artigos para jornais. A maior parte são recusados o que o leva a uma situação de grande penúria. A fome instala-se e torna-se o cerne da sua vida. Assistimos aos monólogos interiores do protagonista relativamente à sua situação, os devaneios que cria, as suas quase alucinações e as tentativas que faz de escrever. Mas com fome não se escreve. E o livro é apenas isto. Mas é de uma beleza enorme. No resumo de Paul Auster "Um homem jovem chega a uma cidade. Não tem nome, casa ou trabalho; ele veio para a cidade para escrever. Ele escreve. Ou, mais precisamente, ele não escreve. Ele passa fome até estar quase morto; é uma obra desprovida de enredo, acção e - à excepção do narrador - personagens; O livro requer coragem e não muitos de nós estariam dispostos a arriscar tudo por nada. Mas é isso que acontece em Fome. A personagem de Hamsun alivia-se sistematicamente de qualquer crença em qualquer sistema, e no final, por meio da fome que se infligiu, alcança nada". Não há nada para manter o jovem em acção e movimento, mas mesmo assim ele continua sempre em movimento.
Em resumo, um livro cheio e grande sobre quase nada. Notei também no paralelismo 8também acentuado pelo Paul Auster) com esse conto extraordinário (e escrito mais tarde do que este romance) do Kafka que é "O artista da fome".
Umas boas entradas em 2009 com boas leituras e com os votos de que surjam surpresas literárias antigas e novas para todos nós.
1 comentário:
Gosto muito de Hamsun e aqui tão poucos o conhecem. parabéns aos 7 leitores!
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