Rubem Fonseca agarra o leitor até ao fim mesmo em pequenos contos como este. “Ela” é talvez o conto mais pequeno do livro, quase um poema. É uma pequeníssima narrativa que começa com “Na cama não se fala de filosofia” e acaba “Ela disse, te amo, vamos viver juntos. Perguntei, não está tão bom assim? Cada um no seu canto, (…) Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa coisas diferentes para o homem e para a mulher. Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de existir. Respondi que Nietzsche era um maluco. Mas aquela conversa foi o início do fim. Na cama não se fala de filosofia.”
Mas são muitas as mulheres que o autor fala neste livro, algumas são narradoras da sua própria tragédia, outras intermediárias na narrativa e grande parte delas são o eixo principal da história. O narrador, na primeira pessoa, muda-se de personagem em cada conto, por vezes, até é um “serial killer”, um bom “serial killer”, capaz de ter as atitudes mais nobres.
É ambíguo o papel que este autor dá à mulher, por vezes é aclamada e amada, outras vezes é tratada como um objecto, é agredida, assassinada. Não há uma moral. Talvez o autor queira chegar ao limite, para renunciar a situação. Assim sendo, talvez haja uma moral.
Sexo, violência, amor, paixão e suspense são alguns dos ingredientes deste livro. O autor descreve, sem tabus, cada cena com todos os pormenores quase obscenos (para um leitor, como eu, educado numa cultura laica mas cristã). Mas talvez seja isso que me faça, secretamente, ler este livro. Como uma criança que, às escondidas dos pais, vê as revistas proibidas. Este é um livro para se ler no bom calor do verão.
2 comentários:
Tenho uma relação complicada com a escrita de Ruben da Fonseca.
Irrita-me a violência, a crueza, a quase ausência daquilo que me parece ser o melhor da humanidade.
"Não tenho nenhema relação erótica com o mal." disse Peter Handke. E eu sobescrevo.
No entanto... Não consigo deixar de ler o que apanhar de Rúben da Fonseca e lê-lo de um só fôlego porque a sua oficina narrativa me agarra pelas orelhas e me conduz que nem um tonto fascinado da primeira à última página.
Contradições de um leitor que nem sempre é capaz de se impôr ao livro...
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