domingo, 13 de julho de 2008

OS LIVROS QUE NÃO LEMOS E OS QUE LEMOS




O texto do Albano fez-me regressar a um dos livros mais interessantes que li recentemente. O título parece o de um desses livros de suposta auto-ajuda: “como ser culto e ministro da agricultura em 20 lições”, “como amar 150 mulheres em 3 horas e um quarto”, “como gerir uma empresa sem sair da casa de banho”, etc.

Afinal, trata-se de um livro inteligente, erudito, divertido, muito racional, muito francês, muito motivador. Um livro sobre a complexidade do acto de ler e a diversidade das sua práticas.

O autor, Pierre Bayard, professor de literatura e psicanalista, mostra-nos que quando lemos estamos a ler muito mais do que o texto que temos à frente dos olhos. Estamos a fazer essa leitura a partir do nosso livro interior onde se cruzam as nossas vivências de leitor às quais juntamos farrapos de outras leituras, opiniões alheias, memórias de filmes, imagens soltas, uma farândola que agarra em cada texto e, no acto de ler um livro, constrói um outro livro, um livro único.

Conhecer estes livros únicos que resultam da leitura de cada dos outros leitores é o lugar onde reside o prazer da partilha de leituras que é o que vamos tentar fazer neste blog.

5 comentários:

Tiago Carvalho disse...

Sim, não ler o livro mas ter uma visão geral, conhecer o seu contexto. Eu que me castigava por nunca ter conseguido ler Ulisses de Joyce (tentei muitas vezes), agora fico mais descansado.
O autor refere Musil "O homem sem Qualidades", eu ando a namorar esse livro nas livrarias, mas quem não consegue ler Joyce será que consegue ler Musil (ainda por cima 3 volumes)?
Há uma coisa que ainda não ouvi de Bayard (só estou na P35), será que ele fala do prazer de ler um livro, deste acto de sair daqui e ir para o outro lugar, de iniciar a aventura? É um acto de curiosidade, de amor, de paixão, de prazer isso para mim é que importante. Ou será que estou enganado e terei que ouvir ironicamente Valéry dizer "Felizes os escritores que nos tiram o peso do pensamento e que tecem com dedo leve um disfarce luminoso da complexidade das coisas" ou Felizes os leitores que são incitados a tirar o peso do pensamento.

Tiago Carvalho disse...

Não sei se me fiz compreender bem no comentário anterior. Mas talvez citando Bayard "A leitura é antes de mais, a não leitura e, mesmo para os grandes leitores que a ela consagram a sua existência, o gesto de abrir um livro esconde sempre o gesto inverso, que se efectua simultaneamente e que por isso mesmo passa despercebido: o gesto involuntário de não abrir ou se fechar todos os livros que poderiam, num mundo organizado de forma diferente, terem sido escolhidos em vez do eleito." Será que, com este meu propósito de repetir o prazer que tive a ler um autor, lendo a sua obra toda, estou a abandonar todos os outros livros que devia abrir? todos os outros autores importantes. Eu já li clássicos que foram um martírio acaba-los. E já li livros que me deram um prazer enorme e ninguém fala deles e me fizeram pensar muito, não me foram indiferentes. Embora as suas histórias são banais, não têm uma profundidade clássica, não evocam mitos, nem deuses. Eu gosto muito de livros que a sua narrativa me vicie.

Anónimo disse...

Caro José Fanha ficam os votos de boa sorte para este blogue. Alguém, de cujo nome eu não me recordo agora, disse: 'ler é levar a alma a viajar', e portanto espero poder viajar também nestes posts.

José Boldt disse...

Meus caros

Óptima ideia esta de criarem um blog para falarem dos livros,
vou já comprar o
“Como falar dos livros que não lemos” e depois é como escreve o José Fanha, no acto de ler um livro, constrói um outro livro,
um livro único.
Por isso alguém disse
“ um livro tem palavras
que fazem sonhos”
a mim, ajudam-me a fazer fotografia, que procuro que tenha poesia.

Um abraço e muito obrigado
zé boldt

Tiago Carvalho disse...

Fanha
Este livro tem ideias muito importantes e libertadoras. E o mais interessante do livro é que Bayard ilustra as ideias com personagens, diálogos, situações, na grande maioria das vezes, de livros que foram lidos com muito entusiasmo. Ou será que Bayard não leu os livros de que fala?