terça-feira, 16 de setembro de 2008
"DORA BRUDER" de Patrick Modiano
Um momento muito sério de luta pela preservação da memória num romance que não é bem romance e não corresponde a nenhum dos grandes modelos da narrativa tradicional.
Tudo começa com um apelo lido num velho jornal de 1941 em que uma mãe vem pedir dados sobre a filha, Dora Bruder, desaparecida há 15 dias de casa, em Paris.
O livro organiza-se de forma quase burocrática numa busca obsessiva de registos de polícia, de hotéis, de escolas, do Registo Civil, na tentativa de desenhar o percurso de Dora Bruder, adolescente judia, desde que fugiu do Colégio do Sagrado Coração de Maria até desaparecer no comboio para Aushwitz.
O percurso começa por parecer flat, aborrecido e pouco motivador. No entanto, vai-se tornando irrespirável pela forma como, a pouco e pouco, o autor desenha o ambiente policial, escuro, miserável, da vida e, sobretudo, da vida dos judeus, durante a ocupação de Paris.
Depois, Modiano começa a cruzar os percursos e os locais de Dora Bruder com os da sua vida e da vida de seu pai, judeu de origem italiana.
Modiano passa ao lado da descrição das emoções mas deixa-nos conviver com a sombra das emoções que foram incompreensão, pavor e medo.
O autor interroga mais do que afirma. Mas a sua interrogação em torno da questão judia, a transcrição de relatórios de polícia, cartas dos presos, uma teia de pequenas referências apanha-nos pela garganta e mostra-nos como pode ser fundamental o ofício de preservar da memória de gente miseravelmente apagada da vida.
Saiu há menos de uma ano em França um seu romance “Dans le café da la jeunesse perdue” sobre a vida de jovens em torno de um café dos anos 60. Pelas recensões que li deve ser imperdível.
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1 comentário:
José Fanha,
Fiquei interessada no tema, o enredo cativou-me. Vou inclui-lo na minha "lista" de livros a ler(está um bocadinho extensa, e ultimamente a leitura não tem ocupado um lugar de destaque :(
Obrigada.
Um grande sorriso :)
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