sábado, 2 de agosto de 2008

O olhar de um leitor




Enquanto leitores, temos a sensação subjectiva de que os nossos olhos percorrem as linhas impressas suave e continuamente da esquerda para a direita e de cima para baixo. Nada mais longe da verdade. Se equiparmos uma pessoa com uns óculos especiais que registam os movimentos oculares e lhe dermos uma texto para ler obtemos um registo do género que está em cima. Os nossos olhos fixam-se sobre uma palavra (e não necessariamente sobre todas as palavras) e depois há um movimento de salto dos olhos para uma nova posição na linha (movimentos sacádicos). Ocorrem também regressões, ou seja, movimentos dos olhos para trás, para uma parte já examinada da linha, sobretudo para porções de texto que não foram bem compreendidas de uma primeira vez.

Quando os nossos olhos se fixam sobre a linha impressa apenas uma pequena porção dessa linha fica disponível para análise (a denominada amplitude perceptiva; ver figura acima). A acuidade visual é muito limitada porque só uma área muito restrita em torno do ponto de fixação do nossos olhar vai ser dirigida para a fóvea (área de maior resolução da retina), enquanto que à medida que nos afastamos do ponto de fixação a informação vai ser dirigida para áreas da retina com cada vez menos resolução.
É a nossa mente, com um conjunto sofisticado de operações, que consegue transformar esta apreensão fragmentada da informação escrita na impressão subjectiva de uma leitura escorreita e suave. E, é claro, não estamos conscientes de nehum destes processos.
Abraços










1 comentário:

Paula disse...

Pois esses processos não sendo conscientes, condicionam a actividade da leitura. Gostei muito de ler "O olhar de um leitor" que nos proporcionou. Obrigada.
Volto a referir José Morais: "Quando se reúnem as condições materiais e cognitivas da actividade da leitura, a dimensão pessoal da leitura pode realmente expandir-se".
Tendo a leitura uma carga subjectiva (independentemente dos percursos de vida refiro-me aos processos de aprendizagem) são fundamentais os estudos de psicologia e a sua aplicação para a definição de políticas educativas, onde ressalto a importância do papel das bibliotecas públicas.